Os primeiros 30 exemplares foram entregues a entidades de pesquisa e a personalidades ligadas à memória de Delmiro Gouveia
Jornal Correio da Pedra retratou desde eventos da primeira guerra até o primeiro ato do cangaço em Água Branca Márcio Ferreira |
Texto de Dayris Carvalho e Severino Carvalho
Administrações públicas, ferrovias, a seca e o cangaço eram os
principais assuntos retratados nas páginas amareladas do jornal Correio
da Pedra, que circulou durante a 1° República entre 1918 e 1930, na Vila
da Pedra em Delmiro Gouveia. Preservado pelo Instituto Histórico e
Geográfico de Alagoas (IHGAL), a coleção do jornal foi organizada pelas
mãos do professor Edvaldo Nascimento e da antropóloga Luitgarde
Oliveira.
A obra foi lançada durante solenidade realizada na noite de
terça-feira (5), na sede do IHGAL, e reuniu escritores, jornalistas,
historiadores, dentre outros convidados.
O governador Renan Filho prestigiou a cerimônia. Ele recordou que o
Correio da Pedra retratou, durante muito tempo, os fatos do Sertão
nordestino que viraram história, sobretudo a região de Delmiro Gouveia.
“Preservar o Correio da Pedra é olhar para trás e ver que Alagoas
participou de muitos momentos da história do nosso País, retratando para
o sertanejo de outrora, que certamente tinha muitas dificuldades –
talvez até mais do que hoje –, o que acontecia no país e no mundo. Ao
reconstituirmos essa coleção, a gente tem muita chance de olhar para
trás, ver o que foi feito e construir um caminho melhor para o futuro.
Acredito que esse é o nosso compromisso”, declarou o governador.
Considerado uma verdadeira relíquia do jornalismo alagoano, o Correio
da Pedra retratou desde eventos da primeira guerra até o primeiro ato
do cangaço em Água Branca, narrado com detalhes minuciosos que só a
proximidade com a realidade do Sertão poderia trazer. A coleção é um
importante instrumento que fomentará a formação e a educação histórica
de muitos estudiosos e profissionais, além das instituições de pesquisa e
bibliotecas.
“É um momento de muita alegria, principalmente por estar incluso nos
200 anos de Alagoas. Agradeço muito ao governador por ter demonstrado
sensibilidade com o resgate histórico e cultural, abraçando esse projeto
que me dedico há oito anos”, disse Edvaldo Nascimento.
Idealizado por Delmiro Gouveia, o Correio da Pedra só chegou a
circular em 12 de outubro de 1918, mantido por outras famílias da
região. Muitos descendentes marcaram presença no lançamento, como
Michael Gouveia que representou a família e a memória do bisavô Delmiro
Gouveia.
“Eu já li muitas biografias sobre meu bisavô, em algumas sempre tem
um fato novo, uma curiosidade, então acreditava que já sabia bastante.
Um dia o Edvaldo me ligou para contar sobre o jornal. Eu fiquei tão
empolgado e achei interessante que, mesmo depois de tanto tempo, ainda
havia algo para se descobrir a respeito dele,” relembra Michael.
Durante a solenidade, a antropóloga Luitgarde Oliveira, aos 80 anos,
se emocionou ao agradecer os amigos que foram importantes no processo.
“A vida me deu o máximo.” Ela dedicou ainda a homenagem a todos os
pensadores que estão mencionados no jornal e brinca: “Há 11 anos que o
Enio Lins [secretário de Estado da Comunicação] e o Edvaldo fazem
carnificina da minha mente, então hoje, estamos aqui”.
O secretário da Comunicação Enio Lins, que também é membro do IHGAL,
considera não haver melhor comemoração para o aniversário de 155 anos de
Delmiro Gouveia. “É uma coleção única e rara, que por motivos de
conservação não podia mais ser pesquisada, já que o papel estava se
decompondo. O Instituto, então, cedeu à coleção para que o que o Governo
do Estado pudesse promover a digitalização página a página”, explicou.
Os primeiros 30 exemplares foram entregues a entidades de pesquisa e
personalidades ligadas à história de Delmiro Gouveia. O material será
totalmente impresso e distribuído em meados de outubro.
Agência Alagoas
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