O edital Institucional Links possibilita o intercâmbio de pesquisas ecológica entre grupos de estudos alagoanos e britânicos
Richard Laddle e Ana Malhado, do Instituto de Ciências Biológicas e Saúde da Ufal, falam sobre a cooperação internacional Fotos: Naísia Xavier |
Texto de Tárcila Cabral
Interação internacional é possível entre a pesquisa alagoana e os
grandes grupos globais? Os laboratórios alagoanos provam que sim. Pela
atuação do Governo de Alagoas, com o intermédio da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), foi possível disponibilizar um
programa de intercâmbio em pesquisa entre Brasil e Reino Unido.
Operacionalizado pelo British Council e co-financiado pelo Newton
Fund e Fapeal, o Institucional Links é fruto dessa parceria que converge
interesses de pesquisa entre os países. O edital aceitou propostas para
um conjunto de atividades de cooperação entre instituições brasileiras e
britânicas incluindo workshops, palestras e outras atividades de estudo
que podem ser realizadas por um período de até dois anos. Alagoas, em
especial, obteve êxito na proposta submetida para 2018, por laboratório
do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), da Universidade
Federal de Alagoas (Ufal).
O britânico Richard Ladle, um cientista interdisciplinar da
conservação, é o coordenador do projeto e o está desenvolvendo em
conjunto com a docente Ana Cláudia Malhado, que também compõe o quadro
do ICBS e é coordenadora do Programa de Pós-Graduação (PPG) em
Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos.
O tema em questão não poderia ser mais atual, que em tradução livre
se intitula “Desenvolvendo plantas de investimento para áreas protegidas
de uso sustentável no Estado de Alagoas”. Munindo-se de um propósito
ecossistêmico, a análise pretende dar dinamismo a ações de proteção e
manutenção ambiental.
Adentrando à pesquisa
Fazendo uso de uma nova abordagem e com os estudos de manejo já
concluídos, esta será a primeira vez em que a pesquisa sairá do
laboratório para ser aplicada no campo, nas próprias áreas protegidas. O
objeto vai ser reproduzido nas oito Áreas de Proteção Ambiental (APA)
em Alagoas, assistindo cada unidade em como se pode investir de maneira
específica.
Os pesquisadores esclarecem que conservar, hoje, tornou-se uma
questão global, a qual os governos estudam, buscam, mas concluem que não
têm dinheiro suficiente para sustentar as redes de conservação que os
países contêm. Então, a solução encontrada pelo grupo para essa lacuna
mundial é pôr em prática um projeto que considere ativos financeiros,
abordando as áreas protegidas como mais do que apenas um ambiente onde
as pessoas conservam a natureza.
Contexto Social
Nesse ensejo, a proposta consegue ultrapassar a pesquisa e se torna
um plano social, interferindo no contexto da comunidade local a partir
do desenvolvimento sustentável. “O conceito do trabalho avalia as áreas
protegidas como um conjunto de cinco tipos de agentes: o biofísico: como
cachoeiras e matas; os humanos, como conhecimentos e capacidades;
infraestrutura, por exemplo, as estradas e trilhas; e institucional, que
são organizações relacionadas”, explica Richard Ladle.
As interações com o povo, a história do lugar, as áreas espirituais,
os valores dentro da paisagem que neste momento ainda não são capturados
na ideia de conservação, tudo isso já é importante para as comunidades.
O trabalho de gestão vai somente elaborar um enfoque de fazer com que
as pessoas passem a valorizar seu espaço e recursos e se transformem nos
verdadeiros guardiões das áreas protegidas, empoderando assim seu
artesanato, histórias, pesca tradicional, entre outras características.
O estudo vai atrair um novo retorno, porque associa relevância e
visibilidade para projetar fatores culturais além do perímetro da
unidade de conservação. Isso também configura valor para grupos de
beneficiários, mas a dupla enfatiza que cabe aos governos, estadual e
federal, refletirem sobre que tipos de beneficiários os planos devem
apoiar.
Além dos estudos, o plano de trabalho prevê a execução de um
aplicativo que, depois de testado deve ser lançado em outras partes do
mundo. A sua finalidade é desenvolver um software sem demarcações ou
limites para ampliar o leque de atuação do programa onde, por exemplo,
uma pessoa no sul do Brasil pode se conectar e fazer o mesmo trabalho
nas zonas protegidas de determinado estado.
A construção desse aplicativo será executada por acadêmicos do
Instituto de Computação (IC) da Ufal, em conjunto com o professor Paul
Jepson, representando a parceria britânica com a universidade de Oxford.
Já ao grupo do ICBS cabe o desenvolvimento da metodologia teórica do
programa e sua aplicação em campo.
Parceria internacional
Entrando no contexto local, o incentivo à captação de acadêmicos
estrangeiros possibilitará novos desafios às equipes com a
obrigatoriedade de se falar e produzir em inglês.
Graças ao Institucional Links, os estudantes alagoanos irão a Londres
aprender o progresso da metodologia internacional. Os estudiosos
consideram que tanto o Reino Unido como Oxford estão sempre à frente em
pesquisas para a preservação e sensibilização da população, mas hoje
sentem que tem uma responsabilidade grande com outros países. O Brasil,
por sua vez, é rico nesta biodiversidade e é um local propício ao
intercâmbio de informações.
Perspectivas Futuras
A bióloga Ana Malhado pontua o quão importante é o fomento a editais
internacionais: “Nós queremos agradecer à Fapeal, por possibilitar os
convênios com estas chamadas. Isso está abrindo muito as portas da
pesquisa neste momento”, declara a pesquisadora.
Este trabalho conta também com a participação de alunos da graduação,
uma aluna de mestrado e outra de doutorado, existindo ainda a
disponibilidade de contratação de um pós-doutor. Porém os pesquisadores
não descartam a necessidade de ampliar a equipe, para produzir a
divulgação científica do projeto e auxiliar na parte administrativa.
Os eventos previstos no edital, programados de antemão, serão
realizados numa parte final do programa, em formato de workshops. Com a
finalização das etapas de testes e criação de aplicativos, serão
convidados gestores das unidades de conservação do Instituto do Meio
Ambiente (IMA), e do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio), para aprenderem a utilizar a tecnologia.
Mais uma oportunidade de colaboração com pesquisadores britânicos que
se encontra aberta no momento é o edital Researcher Links, lançado de
forma conjunta pelas Faps de Alagoas e Sergipe. A submissão de projetos
vai até 8 de junho.
Agência Alagoas
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