Termo de outorga, em caráter emergencial, foi assinado na terça-feira (11), em reunião na sede da Fapeal
Reunião na Fapeal discute liberação de R$ 200 mil para projeto de combate ao vazamento de óleo no litoral alagoano Mateus Alves |
Texto de Deriky Pereira
O
Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapeal),
informa que serão destinados R$ 200 mil, em caráter emergencial e em
recursos próprios, para projeto de combate ao derramamento de óleo no
litoral alagoano. A notícia foi divulgada na tarde da terça-feira (11),
em reunião na sede da Fapeal, onde também foi assinado o termo de
outorga. Representantes que integram a força-tarefa, montada pela
Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e que visa monitorar os motivos
do vazamento, também estiveram presentes.
Na
ocasião, o diretor-presidente da Fapeal, professor Fábio Guedes Gomes,
explicou que a liberação desses recursos teve o apoio do governador
Renan Filho. “Sabendo da necessidade emergencial para adquirir
equipamentos, conversamos com o governador e resolvemos, de forma
emergencial, abrir um termo de outorga, com um valor de recursos que ele
abriu mão de colocar em outra área, para aportar na Fapeal e conseguir
dar uma alavancada no trabalho de vocês”, disse.
Guedes
comentou, ainda, que Renan Filho determinou que a Fapeal não poupasse
esforços no apoio a este trabalho no litoral alagoano. “O governador
determinou à Fapeal que empreendesse esforços para articular o apoio
necessário na viabilização de projetos de pesquisa que possam monitorar,
avaliar e mitigar as consequências do derramamento de óleo na costa de
Alagoas, se juntando aos esforços já realizados pelo Governo de Alagoas
ao lado de outros da região Nordeste, além de várias instituições,
prefeituras, órgãos de estado, organizações não-governamentais e
universidades”, informou.
O
recurso destinado pelo Governo de Alagoas será investido em pesquisas
que abordarão temas como investigação do óleo coletado; tratamento e
destinação deste óleo; monitoramento da água, da fauna nas faixas de
praia e recifes; qualidade do pescado, além de aspectos socioeconômicos.
Em
paralelo, de acordo com Fábio Guedes, seguirão sendo feitas
articulações com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações (MCTIC), com a participação direta das Fundações Estaduais
de Amparo à Pesquisa do Nordeste, para uma chamada ampla no início de
2020. "Alagoas tem sido reconhecida nacionalmente pela eficiência e
competência na remoção do óleo em nossas praias e acomodação do
material", completou o presidente da Fapeal.
A
reitora da Ufal, Valéria Correia, parabenizou a Fapeal pela resposta
tão rápida à solicitação dos pesquisadores da Universidade, agradeceu a
todos os envolvidos e destacou a importância da liberação dos recursos.
“É muito importante esse compromisso do Estado conosco. A minha
intervenção aqui é no sentido de agradecer, parabenizar e dizer que é
somando forças que a Universidade existe. Nossos pesquisadores se
articulam para enfrentar grandes desafios e esse é mais um deles. Eu não
tenho dúvidas de que temos toda a capacidade e expertise de colaborar”,
salientou.
A
coordenação dos trabalhos ficará a cargo da professora do Instituto de
Química e Biotecnologia (IQB) da Ufal e membro da Associação Brasileira
de Ciências (ABC), Marília Goulart, que se revelou emocionada em
contribuir com este projeto. “Eu estou me sentindo muito viva nesse
momento, que é muito especial, mesmo para mim com 45 anos de
universidade, esse é um momento que me toca. Parabenizo à Ufal, à Fapeal
e a vocês do governo por terem conseguido esse dinheiro nesse momento. A
Ufal mostrará a importância dela, estamos precisando disso. É no
momento que a Universidade está sendo desacreditada que ela mostra o seu
papel. Não agradecemos o óleo derramado, mas foi um momento muito
especial.”
“Alagoas deu a melhor resposta”
Também
presente à reunião, o presidente do Instituto do Meio Ambiente de
Alagoas (IMA/AL), Gustavo Lopes, destacou o empenho do Estado em
contribuir com os trabalhos de investigação quanto ao vazamento de óleo.
“A gente está nessa luta desde o começo desse desastre ambiental e
Alagoas foi bastante atingida. Chegamos a ter 61 máquinas, dentre
tratores, caminhonetes e caminhões; compramos mais de 9 mil em peças de
EPI [Equipamento de Proteção Individual], pois, semana passada, chegaram
100 pessoas do Exército e da Marinha sem esses equipamentos e já
chegamos a 2.200 toneladas de resíduo contaminado, que seriam areia e
sargaço, que foram enviadas para um aterro. O Estado já vai em torno de 4
milhões de custos com essa ação emergencial”, explicou.
Ele
revelou também que os números foram levados para a reunião de
governadores do Nordeste, realizada em Pernambuco, que Alagoas foi o
Estado que deu a melhor resposta. “A gente não sabe dizer ainda se é por
que combateu mais ou por ter sido o estado mais atingido. Agora essas
pesquisas vêm para a gente adentrar mais ao mar e ver como foi a ação
dessa degradação na fauna, na flora, na vida marinha, por isso a
importância da liberação desses recursos”, disse Gustavo.
Já
o pesquisador Emerson Soares revelou que tem uma equipe trabalhando
desde o mês de setembro na coleta de dados mesmo em meio às dificuldades
financeiras, mas que a partir de agora, a força-tarefa terá ainda mais
condições de responder às dúvidas de toda a sociedade. “Um repórter do
Estadão me ligou e também disse que, dos estados que vinha consultando,
Alagoas é o que está mais bem preparado em resposta e em atuação. Isso é
importante porque mostra o nosso cuidado enquanto instituição e
enquanto governo também”, frisou.
União entre ciência e recursos financeiros vai trazer resultados
Ainda
durante a reunião, a professora Marília Goulart falou sobre a
importância dos recursos para o desempenho do projeto e reforçou que a
Fapeal foi bastante importante nessa conquista. “Temos que dar todos os
parabéns para a Fapeal e ao governo do Estado por essa liberação. Vamos
coordenar todas as ações, já definimos atividades, os atores e a
cobrança sobre eles. Então, vamos estar aí para organizar e obter essas
informações, consolidar elas e, quando possível, passaremos para a
sociedade”, disse.
Ela
destacou as habilidades da equipe que integra a força-tarefa e a união
entre a ciência e o fomento que, juntos, vão trazer respostas à
sociedade. “Temos uma equipe muito boa, com habilidades diversas e
pesquisadores das mais diversas áreas pensando em conjunto no problema
que é de alta complexidade, mas vivemos uma crise. A Universidade em
crise, a ciência e a tecnologia em crise, inclusive, de reconhecimento.
Esse dinheiro é muito bem-vindo e vai permitir que ações concretas sejam
feitas para que a população possa ter parte das respostas que precisa
em relação a esse problema.”
A
pesquisadora apontou ainda que dessa iniciativa pode surgir um projeto
de pesquisa de onde podem sair doutores, a quem chamou de “massa
crítica”. “Se nós não tivéssemos a massa crítica, não adiantaria nada o
dinheiro. Ele tem que estar junto com o cérebro e a ciência pode ter
isso. A gente sente que quando uma coisa é bem feita tudo age para que
elas aconteçam, eu acredito nisso em termos científicos. E esse é o
momento. Espero que a gente tenha sucesso e vai ter, pois as pessoas
estão muito certas de realizar. E eles vão realizar com rigor e
responsabilidade agora que tem recursos humanos e recursos financeiros”,
comemorou.
Próximos passos e apoio dos voluntários
Marília,
que vai coordenar os trabalhos, listou ainda algumas ações de destaque
para os próximos passos da força-tarefa. “Primeiro, a coleta da água e
do pescado para ver o grau de contaminação dessa água, dos sedimentos e
do alimento, pois isso é uma questão de segurança – dos alimentos e da
população que o consome. Essas são respostas mais imediatas que a
população quer. Outra seria o destino do óleo, o que fazer com esse óleo acumulado? Isso também é uma ação precisa, pragmática, que temos professores trabalhando nisso porque o problema é inédito.”
A
professora também comentou sobre o apoio dos voluntários. Para ela,
essa parceria é muito interessante e deve promover uma mudança radical.
“É genial o que está acontecendo, em termos dos voluntários. É o contato
da população com o problema, com os cientistas, e eles estão sentindo
na pele o problema e agindo também. E é a hora de eles aprenderem
também. Tem uma chance enorme de sermos educadores e de termos a troca
como nos livros do nosso querido Guimarães Rosa, que sabe da beleza e da
força da ciência não formal do sertanejo, da pessoa do litoral, junto
com educação formal. Então é muito interessante todo esse processo, uma
via de mão-dupla”, concluiu Marília Goulart.
Agência Alagoas
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