Pacientes do sexo masculino e com IMC acima de 40 têm o risco de morte aumentado
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Desde
o início da pandemia da Covid-19, a obesidade emergiu como uma
preocupação ainda maior para a medicina. Isso porque, com a chegada do
novo coronavírus, esse público apresentou outros fatores que
contribuíram para o agravamento da doença, como a respiração já
dificultada pelo acúmulo de gordura, a propensão maior à inflamação no
organismo e, como se não bastasse, aquelas enfermidades crônicas
preexistentes, associadas ao excesso de gordura corporal, que acabam
agravando o quadro da infecção respiratória, aumentando, e muito, o
risco para internação hospitalar.
Segundo
Luiz Guilherme de Almeida, nefrologista do Hospital da Mulher Dr.ª Nise
da Silveira (HM), as pessoas com excesso de gordura tendem a ter
pressão e glicemia mais elevadas e outras condições propícias a quadros
graves de Covid-19. “Pessoas obesas têm mais risco de desenvolver formas
graves da doença, especialmente nos homens com excesso de gordura,
visto que eles têm o risco de mortalidade aumentado em centenas de
vezes. De acordo com Bruno Halpern, que é endocrinologista, doutor em
medicina pela USP [Universidade de São Paulo] e vice-presidente da
Federação Latino-Americana de Obesidade, nos indivíduos que têm o índice
de massa corpórea (IMC] acima de 40, a Covid-19 aumenta em 500% o risco
de morte nos homens e em 60% nas mulheres”, destacou.
Embora
haja indícios de que os quilos a mais atrapalhem a resistência contra
vírus e bactérias, o estado de inflamação a que os obesos estão mais
propensos parece pesar mais na Covid-19. Nesses indivíduos, a resposta
imunológica não é tão efetiva para curar a doença e ainda causa danos
aos pulmões, tornando o quadro mais grave. O médico do Hospital da
Mulher, Luiz Guilherme de Almeida, lembra que, antes da Covid-19, já
existia uma pandemia não infeciosa do mundo moderno, chamada de síndrome
metabólica, associada à obesidade, como resultado da alimentação
inadequada e do sedentarismo.
“Essa
síndrome aumenta em 2,5 vezes a chance de morte cardiovascular do
indivíduo. Ela tem como base a resistência à ação da insulina, o que
obriga o pâncreas a produzir mais esse hormônio, podendo levar ao
diabetes ou ao pré-diabetes. A síndrome também está associada ao aumento
dos níveis de triglicérides (um tipo de gordura do sangue), as baixas
taxas do HDL (colesterol bom), ao aumento de gordura abdominal e ao não
controle da pressão arterial. A síndrome metabólica já ceifava a vida
das pessoas mais que as grandes guerras mundiais, e, agora, para
intensificar, a infecção pelo vírus novo coronavírus piorou o risco de
morte nessas pessoas”, explicou Almeida.
A
gordura que se acumula no interior da barriga, muito abaixo da pele,
também chamada de gordura visceral, pode impactar de outras formas, com a
presença dela dentro do abdômen e ao redor de diversos órgãos, até do
coração. Conforme o nefrologista e coordenador da UTI Covid-19 do HM,
essa gordura é uma importante reserva de triglicerídeos e promove
resistência à leptina, um hormônio que promove a saciedade, dificultando
a adesão à dieta. “Ela também causa uma inflamação dentro das
estruturas renais e de outros órgãos. Então, quando o organismo é
acometido por outra agressão inflamatória, como a Covid-19, o quadro se
agrava bastante”, frisou o médico do Hospital da Mulher.
De
acordo com Luiz Guilherme de Almeida, os quilos de sobra ainda
comprometem a capacidade respiratória. No abdômen mais volumoso, os
pulmões acabam comprimidos. Diante de uma infecção, a reação tende a ser
pior e mais acentuada do que em uma pessoa que respira sem nenhum tipo
de obstrução. “O que piora ainda mais no decúbito dorsal, isto é, quando
o paciente está deitado de barriga para cima. Neste caso, a gravidade
da Terra arrasta esse peso em excesso, comprimindo a cavidade torácica e
o abdômen, o que acabada por dificultar a respiração”, salientou.
Além
disso, pacientes obesos internados, exigem equipes de profissionais em
maior quantidade para ajudar a movimentá-los no leito ou realizar o que
eles chamam de “pronar”, quando se coloca o doente de barriga para
baixo, com o propósito de facilitar a respiração. Segundo o médico do
HM, até a entubação, destinada a remediar a insuficiência respiratória
fica mais complicada.
“O
esforço é aumentado em todos os processos, desde a instalação da via
respiratória invasiva (entubação orotraqueal) até o ajuste dos
parâmetros do ventilador mecânico. A maioria dos obesos tem o que
chamamos de ‘via aérea difícil’, o que requer experiência do médico e
preparo das equipes de fisioterapia e enfermagem. A manobra de prona, na
qual colocamos o paciente de barriga para baixo, é usada quando, ainda
que com todas as medidas prévias tomadas, o paciente continua com baixas
taxas de oxigenação no sangue. Em pacientes mais pesados, até oito
pessoas são necessárias para esta manobra”, afirmou.
Cabe
ressaltar que o combate à obesidade engloba uma tríade: reeducação
alimentar, atividade física e, caso o médico julgue necessário, o uso de
certos medicamentos. Mas o questionamento que fica é: quem já estava em
tratamento para perder peso deve continuar, ou deve esperar um tempo,
após ter sido infectado pela Covid-19? “Na verdade, o combate à síndrome
metabólica deve ser o foco dos profissionais de saúde e dos pacientes
recuperados pela doença. Tanto os que fizeram o tratamento domiciliar,
quanto os que ficaram internados nos leitos de semi-intensiva ou UTI.
Minha recomendação é que eles devem iniciar a prática da atividade
física o quanto antes, pois a infecção é um quadro catabólico, que
consome a reserva energética do nosso organismo, não só do ponto de
vista de gorduras, mas, também, de massa magra”, orientou Luiz Guilherme
de Almeida.
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