Iniciativa de monitoramento e resposta rápida à pandemia vai engajar representantes de comunidades da capital na conscientização da população
Márcio Ferreira
Desde o último dia 17 de julho, o Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) e o Governo de Alagoas iniciaram um projeto de monitoramento e resposta rápida à Covid-19 nas grotas de Maceió. Com dois componentes principais – sendo o primeiro o levantamento de informações junto a moradores e lideranças comunitárias por meio de pesquisa telefônica –, a iniciativa vai estrear nesta quarta-feira (02) o segundo componente, cujo foco mira na participação e no engajamento comunitário de um público bem especial: a juventude.
Nove representantes de oito comunidades foram escolhidos para iniciar um processo virtual de troca de visões e experiências sobre a pandemia, que pretende envolver esses jovens moradores na criação de conteúdos de comunicação para conscientização e difusão de informações acerca da Covid-19. Os jovens residem na Grota do Arroz, Grota Boa Esperança, Piabas, Grota do Rafael, Grota Santa Helena, Grota do Ary, Vale do Reginaldo e Grota José Laranjeiras.
“O objetivo é trabalhar com jovens dessas comunidades para que produzam conhecimento com a linguagem que utilizam – deles e para eles mesmos – para que a gente possa ampliar os conhecimentos das medidas preventivas, de como a grota está se comportando frente à COVID-19 e o que as pessoas podem fazer diante da pandemia”, explica Rayne Ferretti Moraes, oficial nacional do ONU-Habitat Brasil.
Já as mais de 2 mil entrevistas que serão realizadas pelo projeto, servirão de base para o diagnóstico das condições sanitárias e socioeconômicas dos moradores das grotas – auxiliando o poder público na formulação de soluções emergenciais, políticas e projetos de sustentabilidade para melhorar as condições de vida da população nessas localidades.
O projeto é o único brasileiro selecionado entre 56 propostas pelo fundo emergencial do ONU-Habitat para atividades de apoio e resposta à Covid-19.
*A seleção simplificada, feita pelos analistas do ONU-Habitat com auxílio de uma equipe local, formada por uma mobilizadora social, um comunicador social e três tutoras escolheu jovens com idade entre de 16 e 28 anos. Os jovens escolhidos demonstraram desenvoltura na produção de vídeo de apresentação feito nas grotas onde moram e conhecimento sobre a pandemia da COVID-19.
“ A equipe local já possuía uma rede de contatos ou atuação em áreas de grotas e identificaram mais rapidamente jovens que se adequaram a alguns critérios, como preferencialmente ter idade maior que 18 anos, possuir computador ou celular e acesso à internet, uma vez que todos os contatos serão online”, justifica Paula Zacarias, analista de Programas do escritório do ONU-Habitat em Alagoas.
Impactos e percepções
Ao todo, estão previstos cinco encontros, em que todos vão interagir no ambiente mais seguro em tempos de pandemia: o virtual.
A primeira reunião, nesta quarta-feira (02), será para apresentações gerais – do projeto e entre equipe e participantes. Além disso, haverá mais quatro oficinas de Comunicação Popular com periodicidade quinzenal. Cada oficina abordará um tema, que deverá ser, em seguida, registrado pelos participantes por meio de foto, áudio e vídeo.
“Será uma troca, uma conversa, levantando essas percepções. Depois disso, eles terão um tempo para registrar em vídeo o tema que foi discutido”, adianta Paula Zacarias, do ONU-Habitat.
No dia seguinte, quinta-feira (03), é a data da primeira oficina, intitulada: “Eita, que vírus é esse?”. A ideia é debater os impactos e o entendimento de cada integrante sobre a Covid-19. No encontro seguinte, o tema será: “A Pandemia na minha Quebrada”, sobre a percepção da garotada a partir de aspectos relacionados à infraestrutura da comunidade.
Na terceira oficina, “Minha Grota é Massa”, a ideia é identificar as potencialidades humanas, culturais e socioeconômicas da comunidade. “O que eles mais gostam na grota? Tem quadra, pracinha, igreja ou trabalho social sendo realizado? Quais as vocações [artísticas e profissionais] das pessoas que ele conhece que moram na grota? Enfim, identificar coisas positivas que certamente existem, mas nem sempre a gente sabe”, exemplifica a analista.
No quarto e último momento – “Um Futuro Urbano Melhor” –, o projeto lança o slogan da entidade para extrair da juventude a sua perspectiva de futuro. O que é um futuro urbano melhor para as grotas de Maceió?
“Ao final, juntaremos os vídeos, iremos editar, fazer os ajustes e gerar um documentário”, revela Paula Zacarias.
Nesta etapa, haverá um intercâmbio virtual entre jovens de comunidades de outros lugares, como Rio de Janeiro e países da África lusófona (que falam a língua portuguesa), onde o projeto também vendo sendo desenvolvido pelo ONU-Habitat. “Queremos acompanhar, fazer comparações, tirar lições e promover cooperação com outros países lusófonos no mundo, como Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, entre outros”, assegura Alain Grimard, oficial sênior da ONU-Habitat na América Latina.
Para acompanhar os momentos deste segundo componente do projeto, basta seguir o perfil @visaodasgrotas aberto no Instagram.
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