Matéria divulgada nacionalmente pelo portal “Estadão” trouxe a
informação de que uma perícia do Ministério Público Federal sobre o
sistema de contabilidade paralela da Odebrecht concluiu que a
empreiteira pagou R$ 500 mil em caixa dois para a campanha do senador
Fernando Collor (PTC), em 2010. O documento, datado de abril, foi
anexado aos autos de investigação contra o parlamentar no Supremo
Tribunal Federal. De acordo com a perícia, o dinheiro teria sido
entregue em espécie ao ex-presidente da República.
De acordo com o perito criminal da Procuradoria-Geral da República
Gilberto Mendes, foram ‘levantados os registros identificados nos discos
rígidos fornecidos pela Odebrecht e por autoridades suíças ao
Ministério Público Federal contendo relatórios extraídos do “MyWebDay”‘ –
sistema de contabilidade paralela da empreiteira mantido na Suíça
fornecido à Lava Jato por meio de cooperação jurídica internacional.
Delatores da empreiteira afirmaram ter feito repasses de R$ 500 mil
em 2010 e de R$ 300 mil em 2014, no entanto, os relatórios identificados
constam apenas pagamentos da empreiteira até o mês de junho de 2012.
Reprodução de trecho da perícia
De acordo com o perito, ‘foram encontradas evidências de que a
Odebrecht efetuou pagamentos de, pelo menos, R$ 500 mil reais, em
setembro/2010, destinados ao codinome Roxinho, que segundo executivos da
Odebrecht identifica o Senador Fernando Collor de Mello.
Segundo a perícia, um dos documentos revela ‘extrato da conta de
controle da Odebrecht denominada Paulistinha Real, operacionalizada pelo
doleiro Álvaro José Novis para viabilizar os pagamentos em espécie
(reais) na cidade de São Paulo/SP. “Os registros existentes nesses
extratos revelam quais as contas de onde saíram os recursos para
viabilizar os pagamentos da empreiteira ao codinome Roxinho”.
“O dinheiro para o primeiro pagamento de R$ 300 mil foi viabilizado a
partir da conta de controle da Odebrecht denominada Paulistinha-Real,
operacionalizada pelo doleiro Álvaro José Novis para realizar pagamentos
em espécie na cidade de São Paulo/SP, enquanto os recursos para o
segundo pagamento no valor de R$ 200 mil foram obtidos por meio de outra
conta de controle da Odebrecht, denominada Bambi Real”, escreveu.
Roxinho
O ex-presidente Fernando Collor de Mello – ‘roxinho’ na lista da
Odebrecht, em razão da célebre frase ‘eu tenho aquilo roxo’, proferida
nos anos 1990 – teria sido beneficiário de caixa dois da Odebrecht
Ambiental em razão do lobby pela privatização do saneamento de Alagoas,
segundo o ex-presidente da empresa de saneamento do Grupo. Os valores
teriam sido operacionalizados entre os executivos e o primo do senador
Euclydes Mello, de acordo com a delação da empreiteira.
Fux é o relator do caso desde o dia 10 de agosto, após a presidente
do STF, Cármen Lúcia, decidir que os fatos narrados pelos colaboradores
da construtora não estão relacionados com a operação Lava Jato, que
apura desvios na Petrobrás e outras estatais.
Esgoto da Odebrecht. Em 2009, a maior construtora do país tinha em
seus planos pleitear a concessão à iniciativa privada do sistema de
saneamento do estado de Alagoas, de acordo com o ex-presidente da
Odebrecht Ambiental, Fernando Reis.
“O investimento era chamado Sistema Adutor do Agreste, que tinha como
objeto o abastecimento de água aos municípios de Arapiraca, Coité do
Nóia, Igaci e Craíbas dos Nunes e a Mineração Vale Verde. Chegamos a
participar de um processo público de Proposta de Manifestação de
Interesse (PMI) e apresentamos estudo de viabilidade em setembro de
2009. Em duas ou três visitas à Maceió, percebi que havia no estado uma
enorme oportunidade para investimentos privados no setor de saneamento,
que tem os piores índices de cobertura do Brasil, chegando até a estudar
a privatização da Companhia Estadual Casal”, afirmou o executivo
Fernando Reis.
A fim de viabilizar o projeto, os representantes da empreiteira
disseram se reunir com o ex-presidente no aniversário dele, em seu
apartamento pessoal.
No encontro, estavam os executivos Alexandre Barradas e Fernando Reis, Euclydes Mello e Fernando Collor.
Após ouvir a proposta de privatização da Companhia Alagoana de
Saneamento, Collor disse que era favorável à iniciativa privada e chegou
a afirmar que queria que a Odebrecht ‘fizesse obras’. Na mesma reunião,
ficou definido o repasse, via caixa dois.
Segundo o ex-executivo da Oderbrecht Alexandre Barradas, Collor foi “propositivo”.
“Quero que você faça as obras”, teria dito. “E nós: ‘senador, nós não
fazemos obras. Nosso negócio é investimento, é gestão. Inclusive quem
faz a obra não somos nós. Nós contratamos as obras’. E ele: ‘Quero,
quero, quero. Preciso ganhar’”, relatou Barradas.
COM A PALAVRA, FERNANDO COLLOR
“São imputações mentirosas, sem qualquer prova, que refuto com indignação e asco!”
Fonte: O EStadão